No início de 1994, num momento em que já esperávamos um VW Gol bem diferente (o 'bolinha'), muito se falava sobre um novo compacto da Ford que usaria a plataforma, mecânica e a carroceria do novo VW. Essa era uma época em que as duas empresas formavam uma joint-venture, a Autolatina (composição: 49% Ford e 51% VW). Vasculhando minha coleção de recortes de jornais da época, achei essas ilustrações feitas pela Folha de São Paulo em seu caderno Veículos. É claro que foram ilustrações feitas no 'chutômetro', com base em poucas informações. É uma tarefa muito difícil para jornalistas e mídia especializados buscarem informações 100% exatas sobre futuros lançamentos. Com algumas informações, se chega a uma conclusão. A Folha de São Paulo foi incisiva, conforme trecho da matéria a seguir:
"Está confirmado. A Ford lança um novo carro pequeno no país, no final de 95. Vai ser derivado do novo Gol, que a Volkswagen apresenta oficialmente depois de junho e começa a vender a partir de agosto em suas revendas."
Desde o surgimento da Autolatina, em 1987, a VW compartilhou os motores AP assim como a plataforma do Santana/Quantum com a Ford, resultando no Versailles/Royale. Já os alemães aproveitaram a parceria para lançar o Apollo - que era praticamente igual ao Verona, apresentado em 1989 - e a dupla Pointer/Logus, baseados na geração seguinte do Escort/Verona. A VW também chegou a utilizar motores da Ford. Segundo a matéria da Folha, a Ford queria fazer um carro com alguma personalidade, objetivando diferenciá-lo do Gol.
"O modelo, ainda sem nome definido, está sendo desenvolvido no estúdio Ghia, na Itália, e terá a mesma plataforma, mecânica e motorização do novo Gol..." "...Um protótipo do modelo foi submetido no início do ano a testes no túnel de vento da Volkswagen, na Alemanha."
A verdade é que muitos davam como certo o lançamento de um novo compacto da Ford com base no Gol mas... Parece que a VW chiou e não queria compartilhar a plataforma de seu best-seller com a Ford. Há quem diga que esse foi o estopim da separação. A seguir, trechos da página da Wikipedia, onde são expostas as possíveis causas do fim da Autolatina, que efetivou-se em 1996:
No início dos anos 90, a criação da Autolatina começou a ser questionada por ambos os lados. Por exemplo, a equipe da Volkswagen sentia-se incomodada com perda de mercado para o Uno Mille (que, como único veículo da categoria, era um crescente sucesso de vendas) e queria entrar neste segmento de “populares”; mas a Ford tinha uma estratégia diferente, o que se evidencia pela sua tardia entrada neste mercado com o modelo Ford Ka.
Outro exemplo: os engenheiros da Volkswagen percebiam que era chegada a hora de remodelar o Volkswagen Gol, mas o pessoal da Ford não concordava com o investimento necessário, pois tinha outras prioridades na linha Escort. Além disto, havia entre o pessoal da Volkswagen a percepção de que seus produtos ganhavam mercado enquanto os da Ford perdiam. O tempo, porém, mostrou que ambas as marcas estavam perdendo terreno para a concorrência, inclusive devido à abertura do mercado e à entrada de novas empresas no setor.
Outro exemplo: os engenheiros da Volkswagen percebiam que era chegada a hora de remodelar o Volkswagen Gol, mas o pessoal da Ford não concordava com o investimento necessário, pois tinha outras prioridades na linha Escort. Além disto, havia entre o pessoal da Volkswagen a percepção de que seus produtos ganhavam mercado enquanto os da Ford perdiam. O tempo, porém, mostrou que ambas as marcas estavam perdendo terreno para a concorrência, inclusive devido à abertura do mercado e à entrada de novas empresas no setor.
A decisão de separar as empresas, dissolvendo a Autolatina, foi tomada no final de 1994 e efetivou-se em 1996, ocasião em que os sistemas de informação passaram a ser específicos a cada uma delas. A separação foi mais amigável do que pode parecer à primeira vista: foi uma questão ligada a filosofias e estratégias de negócio, com poucos traços de sentimentos e rancor. Um sinal claro disto foi que os empregados puderam optar pelo seu destino, ou seja, se iriam para a Ford ou para a Volkswagen, independentemente de sua origem. Desta forma, vários ex-funcionários da Ford ficaram na Volkswagen e vice-versa.
Dentre os problemas a solucionar estavam os produtos que usavam componentes das duas empresas (exemplo: o Escort com motor Volkswagen) e aqueles em que uma das fábricas produzia para a outra (exemplo: o Volkswagen Logus produzido pela Ford com motor Volkswagen). Para solucionar tal dilema, o acordo previa que, por um ano, produtos híbridos seriam mutuamente suportados. Após este período, cada empresa deveria estar capacitada a trabalhar com seus próprios recursos.
Ilustrações: Fábio Ferrero/Folha de São Paulo - 1994.
Obs.: Texto publicado originalmente em 2008. Atualizado em 13/jan/2011.